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Será que o conteúdo que você consome afeta a indústria de alimentos? E, de que forma os alimentos que você “escolhe” consumir mudam, literalmente, as paisagens? Com o objetivo de responder essas questões e debater as consequências de nossas escolhas alimentares, a jornalista Érica Araium lança, em parceria com a Editora Dialética, o livro "Diálogos Comestíveis - Porque todo comer é você quem desenha". Disponível também na versão de e-book, a produção está disponível no site da editora e nas principais plataformas de e-commerce.
"Todo comer é você quem desenha. Duvida?" A frase, bastante usada em palestras e aulas da autora, acabou se tornando mote para o projeto Diálogos Comestíveis, iniciado em 2015 com muitos #MotivosParaDialogar. Em 2022, a marca, que passou a consultoria de branding especializada em comunicação e sustentabilidade, recorre à mesma pergunta, mas de um jeito literário.
O objetivo é levar os leitores a pensarem sobre as consequências das escolhas alimentares a partir do consumo de informações - notícias sobre o “alimento” que circulam na mídia de uma maneira cada vez mais rápida e fragmentada.
"Falar sobre os sentidos de “alimento” é falar sobre algo paradoxal. Assim como a fome também é paradoxal, porque admite sentidos diversos. Então, na essência, estar bem informado ou não sobre os alimentos, a gastronomia e os atores que atuam na gastronomia brasileira corresponde a estar bem ou mal alimentado, bem ou mal nutrido (seja de alimento ou de informação). A produção jornalística e o consumo de informação depende excessivamente do BIG DATA, dos algoritmos, das inteligências artificiais, das redes sociais etc. Significa dizer que o consumidor de informação, muitas vezes, fica faminto de "alimento" porque a produção noticiosa foi feita de uma forma frágil e muito restrita às condições de produção das redações, cada vez menos ideais ou glamourosas, sobretudo na última década, num mundo mais complexo e veloz", defende a jornalista, que vivenciou a rotina de imprensa de 2003 a 2019 em redações.
Para Érica, a construção de uma gastronomia brasileira e multidisciplinar depende, também, de dar-se voz a uma diversidade maior de cozinheiros, garçons, culinaristas, pesquisadores, sommeliers e outros profissionais de restaurantes. "Temos uma visão inicial de gastronomia no Brasil. O que se deve, em parte, à recente formalização de cursos de gastronomia (nos últimos 20 anos) e à midiatização dos cozinheiros. Creio que os cozinheiros devem atuar como mediadores da relação cultural entre as pessoas e o alimento antes de se tornarem midiáticos. É preciso ponderar os discursos e seus impactos sobre a sociedade e o meio ambiente", avalia.
Ao longo das 268 páginas, Érica faz uma revisão histórica, bastante peculiar, pela perspectiva do gosto. Afinal, para “gostar” ou “não gostar” de uma coisa é preciso experimentá-la, apreciá-la e enquadrá-la em certos critérios pessoais, que são construídos ao longo do tempo. Durante a escrita, a autora estabelece o diálogo entre a gastronomia e a comunicação.
O texto é carregado de poesia e provocações. Os zeros e uns que surgem espaçados, por exemplo, são referências ao dialogismo, à informatização e aos códigos binários. Em algumas páginas, há “silêncios binários”. Noutras, um grande volume de análise dos discursos. A autora discute os processos criativos pelos quais passam jornalistas, cozinheiros profissionais e outros atores da "alimentação" (em seu sentido mais amplo) ao longo da construção da culinária e da gastronomia brasileiras.
No capítulo dedicado ao gosto da sustentabilidade, por exemplo, Érica revisita o termo "sustentabilidade", tão desgastado e comumente usado, para compreender a maneira como os jornalistas tratam da pauta “gastronomia sustentável”. “A partir da análise de 81 reportagens acerca da cobertura de imprensa do Seminário Fruto - Diálogos do Alimento de 2018, busco compreender como a imprensa apresenta esses temas e se introduz a noção de uma gastronomia sustentável à brasileira”, completa Érica.
Como descreve, no prefácio do livro, a historiadora e doutora em comunicação e semiótica Tatiana Lunardelli, referência nas pesquisas sobre a estética do gosto, “Érica desfila, de maneira notável, entre teóricos como Carlos Alberto Dória, Massimo Montanari, Eni Puccinelli Orlandi, Michael Pollan, Pierre Bourdieu, entre outros para desenhar uma linha do tempo em que a gastronomia brasileira foi se construindo como cultura, identidade e sustentabilidade. Passamos por Nouvelle Cuisine, Slow Food, “Macdonaldização". Rico em referências bibliográficas, "Diálogos Comestíveis - Porque todo comer é você quem desenha" é útil a jornalistas, historiadores, nutricionistas, pesquisadores de comunicação e a quaisquer comunicadores que entendam que o alimento é capaz de nos dar muitos motivos para dialogar. Ou que queiram, simplesmente, desenhar futuros comestíveis mais sustentáveis e criativos junto a muitas vozes.
"Diálogos Comestíveis - Porque todo comer é você quem desenha" é uma adaptação da dissertação de mestrado “Diálogos Comestíveis: o gosto do Seminário Fruto 2018 - Diálogos do Alimento, a divulgação cultural e o semear de uma gastronomia mais brasileira e sustentável”, apresentada ao Instituto de Estudos da Linguagem e Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (labjor) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) para obtenção do título de Mestra em Divulgação Científica e Cultural, na área de Divulgação Científica e Cultural (2020).
Diálogos Comestíveis - Porque todo comer é você quem desenha
Ano: 2022
Autor: Érica Araium
Selo: Dialética
ISBN: 9786525226897
Nº de Páginas: 268
Sobre: Será que "o alimento", tão paradoxal, pode ser tomado por "mediador" da "gastronomia sustentável"? Essa "inteligência coletiva" que depende da inscrição dos sujeitos numa formação discursiva mais afetiva e ética? E qual o papel do jornalista neste processo? E do cozinheiro? Amparado pela análise do discurso, estes "Diálogos Comestíveis" pretendem compreender a relação entre o consumo de alimentos e o consumo de informação, especialmente, no contexto histórico-social brasileiro dos anos 1999-2019. Provocativo, o texto se debruça sobre a constituição, formulação e circulação dos discursos sobre a "gastronomia brasileira" e a "gastronomia sustentável" numa época de importantes acontecimentos históricos e jornalísticos relacionados às expressões. Período esse em que, no Brasil, tem-se expressiva mediatização gastronômica. Os sentidos em evolução das palavras "alimento", "cozinhar", "comensalidade", "agricultura", "comida", "cozinha", "receita", "culinária" e "gastronomia" servem como pontos iniciais de deriva à investigação histórica sobre o que se entende por "discurso gastronômico". E o "Seminário Fruto - Diálogos do Alimento" (2018), evento idealizado pelo cozinheiro Alex Atala, pelo produtor cultural Felipe Ribenboim e pelo Instituto ATÁ como caro objeto de análise.